PALESTRA
NO MAO: A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS NA VIDA DE PAIS E EDUCADORES
O MAO (Museu de Artes e
Ofícios) recebeu , no Projeto Ampliando Horizontes , o
escritor e médico CELSO GUTFREIND. O encontro ocorreu no dia 23 de outubro às
19:30. Celso Gutfriend abordou sua experiência como autor, psiquiatra da
infância, psicanalista , escritor e mostrou-se engajado em projetos em que as narrativas e
as histórias se afirmaram importantes em vários contextos: na escola, na
clínica, nos trabalhos comunitários.
Celso
Gutfreind nasceu em Porto Alegre, em 1963. É escritor e médico. Como escritor,
tem 26 livros publicados, entre poemas, contos infanto-juvenis e ensaios sobre
humanidades e psicanálise. Participou de diversas antologias no Brasil e no
exterior (França, Luxemburgo e Canadá). Foi traduzido para o francês, inglês e
espanhol. Tem diversos prêmios, entre os quais se destacam Açorianos 93 e Livro
do Ano, da Associação Gaúcha de Escritores em 2002, 2007, 2011 e 2012. Foi
finalista do Prêmio Jabuti 2011. Foi escritor convidado da Ledig House, em Omi
(EUA), em 1996. Como médico, tem especialização em psiquiatria, psiquiatria
infantil, mestrado e doutorado em Psicologia, realizado na Universidade Paris
13. Realizou pós-doutorado em Psiquiatria da Infância, pela Universidade Paris
6. É psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre.
Atualmente, trabalha como professor de psiquiatria na Fundação Universitária
Mário Martins e como professor convidado no curso de Psicologia da Unisinos e
UFRGS.
Soneto da professora
Ensinou a nos largar
ensinou a nos manter
ensinou a nos levar
aonde o que é pode ser
Ensinou a segurar
o que pende por um fio
ensinou a suportar
o que se perde no rio
Ensinou a ver no fundo
a não ver e estar ainda
no ponto cego do mundo
que verá, e eu não vi
Ensinou e agora sempre
que canto, eu aprendi
Contatos: celso.gut@terra.com.br
"Nós precisamos falar de nós mesmos. Precisamos ter acesso a nossa própria história".
"O segredo nos enlouquece.O segredo nos diminui."
"Através das histórias, inventamos, criamos e nos identificamos."
"O simbolismo é necessário para a saúde mental do indivíduo."
"Para simbolizarmos é preciso um pouco de angústia, Nem a paz total ( inércia) o excesso de violência geram simbolismos significativos."
"A capacidade de criar histórias paralelas, de sonhar, de ter esperança é fundamental para a saúde mental do sujeito."
"O indivíduo se constitui através do olhar."
CELSO GUTFRIEND
O Projeto Ampliando Horizontes é voltado aos educadores que visitam o MAO e a todos os interessados
nos temas propostos. Os encontros acontecem uma vez por mês, com a duração de
aproximadamente 1h20, sendo 40 minutos de palestra, seguidos por debate com os
presentes.O desafio do projeto é estabelecer diálogos sobre o tema
“Arte & Educação”. O intuito é estimular a reflexão sobre as múltiplas
possibilidades de exploração sensível da temática apresentada no MAO.
Representantes das artes plásticas, literatura, cinema, música, dança e
intelectuais são convidados para realizar esta tarefa.
Com certeza, foi uma ótima formação! Valeu, Museu de Artes e Ofícios pela oportunidade de prestigiar tal evento e por desenvolver um projeto tão maravilhoso!
Um abraço,
Coordenadora Cristina Sanches.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Para refletir...
Numa reunião de pais numa escola, a professora incentivava o apoio que os pais devem dar aos filhos e pedia-lhes que se mostrassem presentes, o máximo possível… Considerava que, embora a maioria dos pais e mães trabalhasse fora, deveriam arranjar tempo para se dedicar às crianças.
Mas a professora ficou surpreendida quando um pai se levantou e explicou, humildemente, que não tinha tempo de falar com o filho nem de vê-lo durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava dormindo e quando voltava do trabalho era muito tarde e o filho já dormia. Explicou, ainda, que tinha de trabalhar muito para garantir o sustento da família. Também desabafou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava compensá-lo indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa. Mas, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia logo, que o pai tinha estado ali e o tinha beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles.
A professora emocionou-se com aquela história e ficou surpreendida quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.
Este fato, faz-nos refletir sobre as muitas maneiras de as pessoas se mostrarem presentes, e de comunicarem com os outros. Aquele pai encontrou a sua, que era simples mas eficiente. E o mais importante é que o filho percebia, através do nó, o que o pai estava a dizer. Simples gestos, como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que presentes ou a presença indiferente de outros pais. É por essa razão que um beijo cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, ou o medo do escuro…
É importante que nos preocupemos com os outros, mas é também importante que os outros o saibam e que o sintam. As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas sabem reconhecer um gesto de amor.Mesmo que esse gesto seja apenas e só, um nó num lençol.
As dimensões
formadoras, dentre elas “ EXPRESSÕES ARTÍSTICAS E DIVERSIDADE NAS RELAÇÕES
SOCIAIS” , constituem-se referenciais
para o desenvolvimento do processo educativo
e portanto, são fundamentais que sejam trabalhadas pela equipe docente.
O Sesc Palladium, ofereceu palestras com temas relacionados ao universo africano, como arte, relações comerciais e diplomáticas além de uma mostra de cinema nigeriano(comemoração dos 52 anos da independência da Nigéria). Na sexta-feira, dia 5 de
outubro, houve a exibição da obra
do diretor nigeriano Tunde Kelani : EFUNSETA ANIWURA. Sinopse: Ibadan é uma
cidade no sudoeste da Nigéria , conhecida por ter a maior população negra da
África. Efusetan Aniwura é uma mulher poderosa , rica e chefe política influente.
Uma tragédia pessoal a coloca em confronto com a própria sociedade que jurou
defender.
Evento: Semana Cultural da Nigéria Data: 02 a 06/10/2012 (terça-feira a sábado) Local: Teatro de Bolso Júlio Mackenzie e Cinema Professor José Tavares de Barros Entrada franca
ENDEREÇO PALLADIUM: RUA
RIO DE JANEIRO,
1046 - CENTRO BH
AV. AUGUSTO DE LIMA, 420 - CENTRO BH ESTACIONAMENTO
SESC PALLADIUM AV. AUGUSTO DE LIMA, 420 HORÁRIO: 7 às
23h.
SESC PALLADIUM
Filmes exibidos na formação
Cineasta nigeriano TUNDE KELANI
Arte no Sesc Palladium
Prof. Paulo, Coordenadora Cristina, Prof. Graça e Prof. Adriana
Mais um pouquinho de arte...
Prof. Pollyanna, Prof. Paulo, Prof. Graça e Prof. Adriana
Para refletir:
“Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens” ...
"Se você abre uma porta, você pode, ou não, entrar em uma nova sala. Você pode entrar e ficar observando a vida; mas se você vence a dúvida, o medo e entra, dá um grande passo.
Nesta sala, vive-se, mas também tem um preço...São inúmeras outras portas que você descobre, às vezes quebra-se a cara, às vezes curte-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual a porta que deve ser aberta.
A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos.
A vida enriquece para quem se arrisca a abrir novas portas.
Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas.
Mas a vida também pode ser dura e severa, se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente; é a repetição perante a criação.
É a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores.
“Ousar, inovar, buscar a ação, é ir em busca de novas realizações, com comprometimento, participação, e acima de tudo, amor pelo que se faz”
EMRCV / EJA/ 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
15 DE OUTUBRO
OBS : O vídeo abaixo foi enviado para o meu e-mail pela coordenadora Rosângela ( 3º ciclo/ EMRCV ). Vale a pena conferir...
REF: YOU TUBE
Uma homenagem da EJA da EMRCV a todos os professores que acreditam , assim como FREIRE, na educação como um ato de amor e coragem!
Com carinho,
Coordenadora Cristina Sanches.
domingo, 7 de outubro de 2012
Retornaremos nossas atividades no dia 15 de outubro de 2012, segunda-feira.
Ah...
Um abraço carinhoso e até breve!
Coordenadora Cristina Sanches.
EMRCV/EJA/2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
AÇÃO GLOBAL:
O Brasil todo por uma única
causa –
Movimento Não Foi Acidente !
OBJETIVO: Coleta
de assinaturas para a nossa Petição Pública nos dias de eleição.
DATA: A campanha será
realizada no dia 7/10 e, caso haja 2º turno, também no dia 28/10/2012.
JUSTIFICATIVA: Nos
dias de eleições, as pessoas obrigatoriamente portam o título de eleitor. Desta
forma, poderemos colher assinaturas para o nosso Projeto, próximo aos locais de
votação (escolas).
· . As pessoas poderão levar Ipads, Iphone, notebooks conectados à
internet ou colher assinaturas em papel, imprimindo-as neste link: http://bit.ly/NFA_Peticao_Imprimir;
· . Sugerimos que a ação seja feita em pequenos grupos, com pessoas
uniformizadas com camisetas , com pranchetas e canetas em mãos.
OBS:
Mesmo que você não possa promover ou participar das orientações acima
faça a sua parte...
ASSINE a Petição!
Você pode ajudar ATIVAMENTEa mudar nossa lei e acabar com a impunidade no trânsito brasileiro.
Acesse o link abaixo e assine eletronicamente nossa petição pública!
Poucos brasileiros sabem, mas os votos para prefeito e vereador seguem lógicas diferentes.
Prefeitos, governadores, senadores e presidente são eleitos pelo voto majoritário. Vereadores e deputados estaduais e federais são eleitos pelo voto proporcional. Na dinâmica do processo eleitoral, tem papel-chave a associação entre partidos, a chamada coligação, quando, na prática, eles fundem-se em um único “partidão”.
Mas, então, o que acontece com seu voto depois de depositado na urna?
Voto Majoritário para Prefeito
Quando votamos para prefeito, estamos elegendo também o vice, normalmente de outro partido coligado. Como os partidos e coligações apresentam um único candidato para prefeito, temos a impressão de que estamos votando na pessoa, porém o que ocorre é que estamos escolhendo um partido/coligação com representante único. No Brasil, não existem candidaturas avulsas.
Na prática: o voto vai para o candidato e para o vice do partido/coligação.
Objetivo: entregar a um único partido/coligação a responsabilidade pelo poder executivo do município.
Resultado: um único pensamento é vencedor: o mais votado entre todos as candidaturas.
Voto Proporcional para Vereador
Se a coligação PX, PY, PZ tiver 30% dos votos, então receberá 30% das cadeiras, que serão ocupadas pelos mais votados da coligação. No voto proporcional, teoricamente, a cadeira não pertence ao candidato, mas ao partido. O candidato não é eleito para representar a si mesmo, mas a um coletivo que o escolheu como representante.
Na prática: o voto ajuda a eleger os mais votados do partido/coligação.
Objetivo: garantir que as diferentes formas de pensar o poder público tenham espaço na câmara dos vereadores.
Resultado: várias linhas de pensamento são vencedoras: as cadeiras são distribuídas de maneira proporcional, de acordo com o número de votos obtidos pelo partido/coligação.
Dica: Escolha primeiro um partido antes de escolher um candidato.
Porque necessariamente seu voto vai ajudar a eleger os mais votados do partido/coligação. Ao votar no candidato sem prestar atenção a qual partido ele está filiado e coligado, podemos ajudar a eleger alguém que não gostaríamos de ver eleito. Ademais, o partido tem importância central no comportamento do candidato antes e, principalmente, depois de eleito. Por isso, esteja atento e cobre uma postura coerente tanto dos candidatos quanto dos partidos.
PROJETO "OFÍCIO DA PALAVRA" COMEMORA 50ª EDIÇÃO COM MARINA COLASANTI
Ariano Suassuna, Ferreira Gullar, José Eduardo Agualusa, Arnaldo Antunes, Zuenir Ventura, Milton Hatoum, Adélia Prado... Essa lista não termina sem antes contemplar muitos outros nomes de destaque da literatura contemporânea, convidados desde o início do Projeto "Ofício da Palavra", há seis anos.Com o objetivo de promover o incentivo à leitura, a divulgação da obra de escritores e a troca de ideias sobre literatura, o Ofício da Palavra estreou em novembro de 2006, tendo como convidado o contista Sérgio Sant'Anna. O projeto é uma iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, com curadoria do jornalista José Eduardo Gonçalves. Em seu sexto ano de vida, o Ofício consolidou-se na cena cultural de Belo Horizonte como espaço de debates e reflexão, a partir da experiência narrada por grandes escritores. No encontro, sediado mensalmente no Museu de Artes e Ofícios, com entrada franca, os autores conversam sobre seu trabalho e respondem a perguntas do público. Ao final de cada edição, o escritor é convidado a ler um trecho de sua obra, escolhido por ele. Dessa forma, as pessoas presentes entram em contato com os textos por meio da interpretação de seu próprio criador, além de serem motivadas a buscar novas informações sobre seus livros.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS ( REF: GOOGLE)
O projeto comemora sua 50ª edição este mês, recebendo a escritora Marina Colasanti. Vencedora de prêmios importantes como o Jabuti, ela é autora de poesias, contos, crônicas e histórias infantis, com cerca de 50 obras publicadas. Marina veio a Belo Horizonte conversar com o público sobre seus livros mais recentes, discutir os gêneros literários e falar sobre a arte da ilustração, mais um de seus trabalhos.O encontro com a escritora foi às 19h30 do dia 25 de setembro, no Museu de Artes e Ofícios. E A EJA da EMRCV não podia deixar de prestigiar tal evento...
REF: Google.
Um pouquinho sobre Marina Colasanti...
Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, na Eritréia, então colônia italiana. Viveu sua infância na África (Eritréia e Líbia) e depois morou na Itália por 11 anos, mudando-se para o Rio de Janeiro após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, atuou como redatora, colunista e editora de jornais, apresentadora de televisão e roteirista. Sua estreia na literatura foi com Eu sozinha (Record, 1968). Além do trabalho como jornalista e escritora, ela já traduziu vários textos italianos.
A autora venceu o Prêmio Jabuti de 1993 por Entre a espada e a rosa (Melhoramentos, 1992), que reúne contos de fadas. No ano seguinte, ela voltou a ganhar a premiação, duplamente: pelo livro de poesia Rota de colisão (Rocco, 1993) e, na categoria Infantil ou Juvenil, por Ana Z, aonde vai você (Ática, 1993). Com Eu sei mas não devia (Rocco, 1995), Marina levou o Jabuti de Contos em 1997. Passageira em trânsito (Record, 2009) foi um dos ganhadores de Poesia em 2010. Em 2011, na categoria Juvenil, seu livro Antes de virar gigante (Ática, 2011) foi o escolhido.
No mesmo ano, Marina foi terceiro lugar no prêmio Portugal Telecom com Minha guerra alheia (Record, 2010). A escritora também foi contemplada com vários selos da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), instituição que lhe concedeu o título Hors Concours.
A próxima convidada do Ofício da Palavra tem muitos planos para o final de 2012. O nome da manhã é o título do livro de poesia infantil que sai este ano pela Global Editora, ilustrado pela própria autora. Ainda para as crianças, está pronto Breve história de um pequeno amor, aguardando publicação. Nos próximos meses, Marina pretende lançar também uma obra de contos e minicontos, intitulada Hora de alimentar serpentes. Além disso, contos de fadas da escritora serão distribuídos para os colombianos no metrô de Medellín, reunidos em um livro cujo lançamento está previsto para novembro.
Marina Colasanti, atualmente, é colunista do jornal Estado de Minas, veículo para o qual escreve todas as quintas-feiras. Ela é casada com o poeta e escritor Affonso Romano de Sant'Anna, mais um representante da literatura que já marcou presença no Ofício da Palavra.
.O maravilhoso texto abaixo foi trabalhado com os alunos da EPC ( Em Processo de Certificação) em 2011 . Assista o vídeo. Tenho certeza que vai valer a pena...
Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.(1972)